quarta-feira, 3 de setembro de 2008

passa-se o ponto

olá a todos.

novos updates informáticos se fazem necessários.

esse blog será tocado em outro endereço:

http://objetosdemelancolia.wordpress.com

acompanhem por lá.

com novo post, inclusive...

meu cordial "até breve".

- dando adeus ao blogspot...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pérolas aos porcos?

Pérolas aos porcos?

Estamos vivenciando uma grande expansão imagética. O modo de produção artístico nunca se aproximou tanto das massas.

De 1839 a um distante 1888, muitos artistas-inventores mergulharam no desconhecido mundo fotográfico, um mundo tão caro quanto excêntrico. Foi apenas no já dito 1888, que George Eatsman kodaqueou o tão famoso “you press the button and we do the rest”. Não há muitos relatos subjetivos de tal (r)evolução para contar história – a maravilhosa blogosfera ainda levaria mais de século para nascer. Podemos apenas imaginar o que corria nas bocas dos especialistas e o que explodia nos corações de quem teria uma nova oportunidade.

As máquinas fotográficas rapidamente deixavam de pesar quilogramas ao quadrado e se tornavam mais portáteis e – o mais importante! – acessíveis. Até então, a fotografia era linguagem de ricos e especialistas, um capricho de inventores e afixionados pelo novo. Ao mesmo tempo que acessível e compacta, a fotografia se tornava alvo e interesse de muitas pessoas. Afinal, um modo de produção imagética instantâneo haveria de conquistar os corações de todos.

É por volta desse período que temos o surgimento de um movimento deveras importante na história da fotografia, o Pictorialismo. Em poucas e injustas palavras, o Pictorialismo se definia como defensor do caráter artístico da fotografia (havia, na época – e quem sabe até hoje! –, uma grande discussão se a fotografia deveria ser encarada apenas como documento, como mimese, ou como uma forma de expressão, como arte). Seja pelo processamento complicado, pelas composições similares às da pintura, pelas técnicas de singularização do negativo, o Pictorialismo tentava negar a reprodutibilidade e caráter de documentação que eram inerentes à fotografia naquela época.

Não digo que uma coisa é conseqüência da outra – o acesso facilitado à fotografia e o Pictorialismo. Mas creio que alguma ligação deve ter havido.

E agora chego ao pensamento principal contido nesse amontoado de palavras: o que dizer dessa “popularização” da fotografia? Seria dar pérolas aos porcos?

Digo essas palavras enquanto faço uma careta – parece-me elitista e egoísta querer reservar um tipo de processo a um certo tipo de pessoa. Creio que o aumento da acessibilidade tenha sido fundamental para o desenvolvimento da fotografia em seus vários aspectos, documental, artístico e filosófico. O Pictorialismo, por exemplo, sucumbiu ao Modernismo fotográfico, munido de diversas vertentes espalhadas pelo mundo inteiro. E esse fato se deu, entre outros motivos, pela popularização do instrumento fotográfico.

Obviamente, nesse caso, o maior e mais fácil acesso semeou um futuro melhor para a fotografia.

Anos passam, guerras se criam e se desfazem, morre John Lennon, Bill Gates fica rico, o All-Star entra na moda, o All-Star sai de moda e é criada a fotografia digital. Então o All-Star entra na
moda novamente.

Um mundo de possibilidades se abre na fotografia: o simples fato de se descartar os gastos financeiros corriqueiros (apesar do alto investimento inicial) e a espera pelo resultado – fetiche fotográfico amansado pelo advento polaróidico – tornou a fotografia digital tão fascinante e tentadora que o número de máquinas fotográficas foi crescendo absurdamente. Modelos novos são lançados, memórias mais rápidas, mais controles, maior resolução, detector de sorrisos... E isso sem falar na invasão fotográfica que sofreram os aparelhos de telefonia móvel.

Não é preciso salientar que o acesso à fotografia, uma vez mais, se torna facilitado.

A fotografia se tornou presente e necessária em qualquer evento. O especial, que antigamente era gravado em película, hoje se aglomera ao corriqueiro gravado no sensor compacto.

Não quero entrar aqui no mérito do fotográfico ou até mesmo do fotografável – há ainda muita água a correr nesse rio. Mas o que interessa agora é a procura por um maquinário cada vez mais especial e que possa proporcionar um avanço no aprendizado, que pode ser relativo a um hobby e até evoluir para a profissão.

E no meio disso tudo, as DSLR (Digital Single Lens Reflex), máquinas consideradas semi e profissionais, mostram o maior aumento de vendas no setor fotográfico. Teríamos aqui, talvez, uma maior especialização do consumidor? Ou apenas pérolas aos porcos?

Em sua nova busca por mais informações e mais tecnologia, o nosso consumidor de base evoluiu a um consumidor médio. Já o consumidor médio, pulou uma posição no pódium, e começa agora a se aventurar nos conceitos profissionais da fotografia.

Talvez ainda seja cedo demais para chegar-se a alguma conclusão sobre esse novo boom de equipamentos fotográficos se não profissionais, mais sérios. Há pontos positivos e pontos negativos, obviamente.

Temos uma maior demanda no setor de compra: produção, pesquisa e desenvolvimento precisarão acompanhar. Porém, o mercado de trabalho é inflado. A pequena possibilidade de transformar um hobby em fonte de renda parece tentadora aos olhos de qualquer um. Possíveis resultados: um rápido sucateamento do mercado de trabalho; os novos “profissionais” desvalorizam o próprio trabalho a fim de penetrar num mercado complicado e bem definido. Em outras pequenas e egoístas palavras, qualquer um se torna “capaz” de realizar um trabalho fotográfico.

Examinando a situação com outros olhos, a fotografia muito tem a ganhar com essa super-exposição que anda ganhando nesses últimos anos. Muitas pessoas passaram a se interessar pelo ato fotográfico – e não só pela fotografia fisicamente dita. Temos um crescendo de apertadores de botão que descobrem a fotografia como arte, como expressão – e se tornam fotógrafos. A arte fotográfica ganha mais espaço: mostras, museus, palestras, feiras, convenções, leilões, cursos, faculdades, teses, concursos.

Talvez por sua linguagem ser facilmente apropriável, a fotografia só tem a crescer em números de usuários – aqueles que fotografam regularmente por hobby, os que a tem como profissão ou os que fotografam a festinha de 5 anos do afilhado. Na balança final, os prós e contras disputam a unhas e dentes pra qual lado penderá a mudança que a fotografia digital proporcionou. Mas ainda há muito a ser clicado sobre esse assunto. E como os cartões de memória são contados em gigabytes agora, ainda veremos muitas fotos sobre esse assunto por aí.

Fecho as minhas mil palavras com muitos pensamentos não ditos. Talvez seja necessário fotografar mais e pensar menos. Ou não.

E agora vai...

Ok. Vamos nessa. Agora esse blog engrena.

Vamos tentar caprichar no formato: sabe aquela idéia que diz que "uma fotografia vale mais que mil palavras"? Pois bem, partiremos daí.

A proposta é simples: eu tenho mil palavras pra tentar dizer o que eu quero dizer sobre determinado assunto de fotografia. Beleza? É pouco? É muito? Sei lá. Vamos vendo por aí.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

I. Do título e do porquê do título.

Ok. Vamos começar do começo.

Criei esse blog pra falar de fotografia.

É isso aí.

Bem simples.

Técnica, crítica, prática? Sim. Mas principalmente filografia. Ou fotosofia. Ou sei lá o quê.

Quero compartilhar com o(a) meu(minha) prezado(a) leitor(a) todas as pequenas grandiosidades que me aproximam cada vez mais da arte fotográfica. Pensamentos sobre o processo, leituras importantes, fotos geniais etc.

Este espaço será primordialmente pra dividir experiências e conhecimentos - algo que me parecia muito latente há pouco tempo. Quem sabe esse blog não se transforma numa pequena base de dados fotográficos, cresce e vira algo maior?

Eu até juraria fidelidade absoluta e permanência cega aqui. Mas irei além das palavras e tentarei demonstrar a minha próxima relação com a fotografia de maneira mais física (ou não - afinal estamos no mundo virtual).

(...)

Objetos de Melancolia - o título desse blog foi retirado de um capítulo do livro Sobre Fotografia, de Susan Sontag - leitura obrigatória que será, certamente, abordada muito em breve aqui. Desse mesmo capítulo, saiu a frase que paira sobre o blog.

Por quê? Sempre me pareceu muito irônico quando os grandes pensadores tentavam resumir a fotografia (seja como meio de comunicação, como arte ou como não-arte) através de algumas palavras. Não sei bem o porquê, mas me parece que algumas coisas simplesmente não foram feitas com algum tipo de tradução em mente. E todos cansamos de ser bombardeados pelo maior clichê fotográfico existente: "uma imagem vale mais que mil palavras". Bom, sendo assim, quantas palavras seriam necessárias para que a fotografia se transformasse em um vocábulo facilmente explicável? Quantas já foram escritas?

Há os que expliquem a fotografia como um processo químico e blábláblá. Há os que a transcrevam como uma ideologia. Whatever. Eu tento olhar a coisa de uma maneira um pouco mais ampla. Comparemos a fotografia a algo mais corriqueiro e facilmente explicável: o amor - ok, péssimo exemplo (quem acha que o amor é facilmente explicável levanta a mão). Seria o amor uma sucessão de reações químicas e hormônios interpretados pelo cérebro? Ou seria o amor apenas uma palavra, facilmente associável a um sentimento? Quem sabe o sentimento de completude e satisfação proveniente de um relacionamento estável com um outro indivíduo? Talvez aquele pôr do sol em Fernando de Noronha explique o que é o amor. E aí? E agora?

Talvez o amor esteja bem por si só, sem que as pessoas tentem explicá-lo. Mas é da constituição humana traduzir as coisas em outras coisas que serão traduzidas em outras coisas.

Talvez a fotografia estivesse bem por si só. Mas há os que nunca a deixaram quieta em seu canto. Dessa relação luxuriosa, vários livros, tratados, ensaios, artigos e idéias nasceram.

E uma dessas idéias me levou a olhar para as fotografias como se fossem objetos de melancolia - coisas que nos parecem tão presentes pelo simples fato da ausência comprovada. Mas aí estou colocando a Ferrari à frente dos 350 cavalos. Voltemos:

Tomei uma pequena frase e um título emprestados da Susan Sontag - e espero merecê-los, honestamente. Acho que, agora, é tudo o que nos basta saber.

E viajarei aqui por outras tentativas de explicação, outros ensaios, outros pensamentos - meus (sim, isso soou muito pedante) e de autores consagrados.

Explicações feitas. Resta dúvidas?

terça-feira, 1 de julho de 2008

o futuro vem aí...

novos projetos, novas ambições.

novas conquistas, novos desejos.

www.caiopaganotti.carbonmade.com

www.flickr.com/photos/caiopaganotti

e, em breve, este blog levantará vôo.

terça-feira, 25 de março de 2008

fogo cruzado


me atiro de peito aberto,
em vôo incerto, tiro de liberdade.
uma grade me prende as asas
e vaza os meus sonhos.

os mundos voam e o tempo chove.
me atiram um pedaço da minha vida,
e o sangue escorre numa panela
embebida em vinho azedo.

medo de nada que não eu mesmo.
minha vida que se atira no nada,
mentira lavada e vendida
por preço não mais que de comida.

as balas voam e o tempo chove.
me atiro contra o muro, seguro
de tudo que não existe.
mas o mundo escuro é tão claro quanto triste.

domingo, 16 de março de 2008

uma porta

tantas portas na vida.
tantas vias tortas, vivas ou mortas,
tantas saídas sem sentido e sem caminho.
tanto espinho imperfeito,
num mundo feito de dor e tristeza,
frieza e rancor de sangue-vinho.

das portas que fechei, não me esqueço.
mas pago o preço de ter fechado
e colocado no passado o que passou por mim.
mas nada fechei fora do tempo,
lento, veloz, de vidas sós,
sem começo, meio e fim.

mas fechastes a porta da minha moradia.
recusastes apreço, abrigo,
colocando preço em um amigo.
despi os meus olhos dos teus olhares,
e o meu riso do teu sorriso.
disse um “adeus” indeciso àqueles ares.

e a minha porta se fechou.

e ela nunca mais vai se abrir para os teus olhos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

act 1, scene V

acho q todo mundo deveria ler shakespeare...


"Did my heart love till now? Forswear it, sight!

For I ne'er saw true beauty till this night."

segunda-feira, 3 de março de 2008

olhos roubados

aconteceu enquanto eu trabalhava. ou enquanto eu dormia, não me lembro ao certo.

eles vieram. sem pisar as flores no jardim, violaram a minha casa, o meu templo - o meu templo sem deus. inutilizaram os meus já cansados sistemas de defesa de maneira tão corriqueira... que a inveja quase brotou-me nos lábios incrédulos.

levaram-me muito. de tudo, um pouco. deixaram o que nada lhes apeteceu. a minha vida estava lá, exposta, fatiada, pronta para se servir. meu carro era um mix de petit four vagabundos e caros em uma bandeja flutuante que passeava por alguma festa pauliceiamente desvairada.

na balança, o saldo negativo estratosferizava os meus olhos quase mortos. objetos caros e impessoais que não eram meus, roupas de um esporte que ainda não comecei a praticar, uma fiel escova de dentes, bandanas memoráveis, uma boina (ah!, a minha boina!), o meu rádio - fiel companheiro nas horas perdidas da madrugada, quando as almas em paz descansam -, um celular novo (quase noivo), um fone com tecnologia bluetooth que nunca conseguiu me ligar às pessoas e, por último, como num golpe de misericórdia impiedosa, levaram-me os olhos.

a minha mala de fotografia continha alguns cabos, carregadores, pilhas, baterias, acessórios, manuais... coisas de menor importância. mas, ainda assim, o maior valor comumente se acha associado ao menor preço.

o corpo de uma canon eos 500N estava lá. era uma máquina pequena, já avariada, avaliada em alguns poucos reais. seus detalhes argênteos apenas denunciavam a sua distância absurda do profissionalismo. lembrando-me dela, agora, não sei ao certo se sinto pena, compaixão ou saudade. era uma máquina modesta, quase imperceptível - e ela dizia tanto sobre mim!

era a melhor máquina que uma criança poderia comprar.

a 500N foi o meu primeiro par de olhos. a minha primeira imagem em 24x36 (ou quase isso). a minha primeira revelação. a minha primeira pesquisa. a minha primeira descoberta. foi ela que me ensinou a olhar e ver.

e os meus olhos me foram roubados, arrancados covardemente. e eu nem pude dizer adeus...

quero acreditar que a 500N servirá de novos olhos a outras pessoas, ainda que o ciúme quase me arranque essas palavras.

(...)

sem perspectivas. sem futuro. sem passado. sem idéias. sem saídas.

sem olhos, eu chorei.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

post 0

estava lá.

ninguém parou pra perceber a beleza do futuro-passado. o tempo acontecia desenfreadamente, e ninguém se importava: as pessoas passavam, a passos profundos e impessoais.

o mundo morria. mas vela alguma era acendida. o calor efêmero que saía das faces se dissipava em meio à confusão disforme das massas.

o tempo passava. todos olhavam o relógio, como se ele pudesse de fato mostrar o tempo - cada segundo em que se olha um relógio é um segundo a menos. e o primeiro segundo de qualquer fato incompreensivelmente perfeito era perdido. perdido no tempo que não pertencia a ninguém.

mas o garoto tinha olhos. tinha percepção. tinha desejo, vontade, paixão. tinha a solução para todos os problemas imperceptíveis. tinha a vontade de estudar e responder. tinha forças e fraquezas em demasia. tinha uma câmera.

e, ao clicar o mundo, revelou-se em tons irreconhecíveis; matizes absurdamente surreais, distâncias focais quilométricas de tão próximas, um campo profundamente simples e uma química quase que compreensível.

o resultado, ele nunca mostrou a ninguém. não haveria quem compreendesse a beleza da sua primeira fotografia.